sábado, 20 de novembro de 2010

A FAMILIA - FAVELÁFRICA


No dia da Consciência negra, talvez não exista um texto melhor do que a letra da música Faveláfrica do grupo de Rap A Família, que relata em um tom de desabafo a cronologia sofrida pelos negros,desde do Navio Negreiro até a suposta " aforria" concebida pela Princesa Isabel.
Por isso se deliciei

Certa noite ouvi gritos, estridente e dolorosos
Os gritos eram de tamanha dor,e tortura                                      
Que eu me aproximei, Daquela triste e bela mulher
negra,e perguntei o que havia
Ela cheia de dor magua e tristeza
Respondia:
Lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele.

Não compreendendo eu perguntei ele quem? Ele quem?
Melancolicamente ela Abradava
O ensano genocida,carrasco afanador de vidas vai levar meus
filhos inocentes por esses mares em tristes correntes
castigo sangue porões Pelourinho chibata grilhões
Filho do ódio parasita hospedeiro filho do mal
chakal condutor do pesadelo
Lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele.

E ainda sem compreender novamente perguntei
Mas ele quem? Ele quem? Ele quem? Ele quem?
A mãe África arduamente incansavelmente respondia
O chakal carniceiro abutre bandido do estrangeiro
Destruindo nossos filhos simplesmente por dinheiro
Ele é! O NAVIO NEGREIRO.

Reflito e sinto pena, daquela preta ingênua
Que aceita ser chamada, de mulata ou morena
Valença, valença, valei-me meu grande Deus, de tanta inconsciência
Porque ela se esqueceu, do tapa na cara, a dor da chibata
O tronco a senzala.
Na boca amordaça, da preta Anastácia
Chefe Ganga Zumba, Zumbi e Dandara
O racismo não passa, é tudo fachada
É jogada armada
É tapa na cara, da nossa raça.

O corpo na vala, a rota que passa, polícia que mata
Mais um preto arrasta, o capitão lá da mata
Do branco a risada, racista piada
É mesmo uma praga,Pra mim isso basta,
tô pegando minhas facas.

Minha língua é navalha, palavra que rasga
E fogo que se alastra, deflagra e conflagra
Mas não quero só fala, eu parto para prática
Olha lá no templo o irmão desiludido
Louco muito louco por um pouco de alívio
Sacaram de uma sacola era esmola era o dízimo
Fogueira fumaça carvão, forca fogo a inquisição
Católica religião, demagogia preconceito.

Eu vejo o desrespeito simplesmente eu não aceito
Miscigenação forçada, mãe África estuprada
Nunca descobridores, invasores só canalha
Torturaram minhas raízes e nos deram as marquises
Agora surgi o revide,o Gato Preto lhe agride
O guerreiro vai atacar, yalorixá yoruba
Keto e nação banto, nago povo africano
Nos roubaram a riqueza, a beleza a nobreza
A terra a natureza, desimaram a realeza
Arquitetura, estrutura, medicina e cultura
Diamantes agricultura, e todo poder de cura
Na minha religião,a inquisição e tortura
O ataque o massacre, o abate os combate
As brigas as intrigas na Serra da barriga
Negros combatentes luzitanos covardes
A trincheira tá armada a arena e palmares
Católica covarde, com o apoio do padre
Resultado do pecado, esticado lá na esquina
Pro negro só chacina, nos roubaram a auto estima
Ter cabelo crespo, e vergonha pra menina
So somos lembrado, no pesado ou na faxina.

LUTHER KING, ZUMBI, MARIGHELA,malcon X,
E NELSON MANDELA
O POVO PRETO AVANTE NA GUERRA
SABOTAGE E JR ABUJAMAL E DONISETE
Eu quero a parte que nos cabe, eu quero a parte que nos cabe
eu quero a parte que nos cabe
e o reparo dos masagres
Dr Rui Barbosa de mente majestosa ação mediculosa
pra mim foi criminosa
Fogo nos documentos fogo em toda prova
fogo na minha vida fogo na minha história
Devastaram o império, saquiaram o minério
Era a peste branca, apoiada pelo clero
Mais eu quero, quero, e espero, sigo reto meu critério
Porque?

Chicote rasgou corpo, sangue rolou no rosto
O carrasco achou pouco, era sangue de um porco
Assim ele dizia,o chicote, chibata descia
O irmão traidor, me persegue no asfalto
Hoje quatro rodas, mas ontem cavalo
Hoje é polícia, ontem capitão do mato.

Fato do meu passado, não me faço de rogado
Conheço, reconheço, muito bem todos esses fatos
Não me sinto derrotado, vou além conquisto espaço
o Preto não é aceito,é simplesmente tolerado
Quero a parte no meu prato, do bolo meu pedaço
Patroa muito boa, falsa como um dragão
escraviza “Seu” João.

Se gosta da Maria, de vassoura na mão
No tanque lava roupa, e a barriga no fogão
Uma falsa dialética de forma sintética
Ausência de ética, falando em estética
Negro marcado, intitulado plebeu
A África não vale, só padrão europeu
Diz que o branco é bonito,o feio aqui sou eu
O Professor me fale, dos meus líderes,meus mártires
Chega de contrastes, ascenção sociedade
Quero a parte que me cabe educação e faculdade.

Não quero as calçadas, eu preciso é de aulas
Trabalho informação, não um copo de cachaça
O tolo quer maconha, eu prefiro um diploma
Informado, doutorado, diplomado,e graduado
Igual a Milton Santos, foi lá no passado
Eu Parto pro debate, digo não à todas grades
Incentivo o ataque, agrupamento pro combate
Quero reparação, por todo massacre
E se eu sou oitenta, cota oitenta pra minha classe
E pra você ouvir, eu vou lhe repetir.

Quero a parte que me cabe, quero a parte que me cabe
Eu quero a parte que me cabe e o reparo dos massacres
Eles querem guerra eu quero é paz
mas se quer eu quero é mais defender meus ancestrais
e por isso corro atras gato preto é sagaz
bola plano eficaz destruindo os capatais
porque?

Criaram novos termos, camuflando o preconceito
Fingindo encobrindo, o desastre que causou
Pretinho, moreninho, mulato homem de cor
Não aceito eu sou negro, eu sou afro-brasileiro
Herdeiros de Zumbi, eu também sou guerreiro
Cartola, Mandela, Portela, Marcos Garvei, Marighela

Revolta da Chibata a Revolta dos Malés
Desmontutu minha nação gege
Meu black, minhas tranças, Referencia pras crianças
Minhas tranças, o meu black, Referencia pros moleques
Candomblé, capoeira, feijoada caseira
Foi mãe africa quem criou
Besteira muita asneira, o livro já falou
Princesa Isabel,PUTA ,
nunca libertou.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Fome

Tenho fome da tua boca, da tua voz, teus cabelos
e pelas ruas vou sem me nutrir, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
procuro o líquido som de teus pés pelo dia.
Faminto estou de teu sorriso resvelado,
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como intacta amêndoa.


                                                                                                               Pablo Neruda

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desequilíbrio

  É tão bom, quando você se identifica com algo, é tão bom quando parece que não encontramos mais nada que nos anime...De repente aparece o Nasi com seu novo Cd e suas músicas melancólicas que eu ADORO e tanto me identifico.


Desequilíbrio




Arde aqui dentro de mim uma pouca vontade
Com gosto cortante de caco de vidro, desnutrida
Exposta à fratura
Desequilibrar
Desequilíbrio



São tantas saídas dadas ao absurdo
São tantos sabores desnutridos
Veneno pro dia corrosivo
Desequilibrar
Desequilíbrio


Certo das contradições,
Desconcertado, desgovernações
Prostituído, descalço no chão estilhaçado
Desequilibrar
Desequilíbrio


O passo pro fim foi conquistado
Desdem tão comum em meus ouvidos
Ligado na sobra do pedido
Desequilibrar
Desequilíbrio


Mais sobras dadas ao desperdício,
Mais veias tapadas por excesso
Mais contribuindo incentivando
Desequilibra
Desequilibrando


Deformações voluntárias sucessivas
Se todas as cores fossem pretas
Em todas as partes meu planeta
Desequilibra
Desequilíbrio